A COR DO PECADO


Um simples gesto. Apontou os meus olhos instintivamente para o seu mundo. Estava ela adornada de sorrisos, belíssima em retrato, envolta num manto vermelho exalando fogo e paixão, quase uma deusa estrelar de fruto proibido, ainda que saboroso e tentador, mas proibido.

Não sabia ainda de minha devoção até aquele instante, mas fui desarmado contra vontade com a tal situação. Não há mais como esconder esse fogo que arde no peito, essa vontade insana de lhe rasgar os tecidos, de assoprar seu corpo lentamente até sentir os pelos arrepiarem. O que está acontecendo comigo? Aonde chegarei com estes devaneios? Será o fogo da paixão consumindo meu equilíbrio?

Lentamente fui acordando desse delírio, me impondo uma auto censura necessária para aplacar os pensamentos carnais imaculados. Pouco adiantou. Aquele quadro pintado de beleza não sai mais do pensamento. A vontade de tê-la corpo no corpo, trocando fluídos, saciando a libido está consumindo meus dias desde então. Que aperto estranho no peito, que descontrole é esse que me domina? Aonde esse rio de desejo vai transbordar?

Com disfarce, sutilmente procuro insistentemente sufocar as idéias mais insanas que agora habitam meus pensamentos. Confesso ao espelho os meus segredos, vomito no papel as angustias, a tortura de ouvir a respiração dela e navegar em pensamentos impróprios para tal situação...

Só me resta relutante, sufocar essa vontade danada e sem jeito de pegá-la pelo quadril e lhe arrancar um beijo! A lógica grita ao pé do meu ouvido que eu mantenha o respeito... A cor do pecado tem nome, tão musical que posso pronunciar pausadamente no relevo daquele corpo, mas tudo que tenho é somente um retrato, um definitivo retrato que tirou a paz e o meu sossego...

Victor Matheus

#fragmento do conto A COR DO PECADO.