AINDA HÁ ESPERANÇA

Ainda me surpreendo com a vida, naqueles dias nublados, cheio de borrões, e noutros opostos, na maioria do tempo quentes como os que temos vivido recentemente em nossa cidade. Tenho a nítida sensação de estar mergulhado numa panela de pressão a ponto de explodir em ebulição e levar junto nossos sonhos e vontade de beber a vida. Para todos os lados que meus olhos apontam vejo rachaduras na moral, na sociedade, na política, e no respeito ao próximo.

Recortando os detalhes do nosso cotidiano é que percebemos como o mundo anda insano, do avesso, e pior, na maioria das vezes provocando em nós um certo pessimismo em relação aos dias que virão. Às vezes, esquecemos de por em prática o que mentalizamos diariamente, principalmente em relação a nossa vida compartilhada com o próximo. Felizmente, ainda vejo esperança, vejo uma porta logo a frente se abrindo para novos caminhos, nem melhores e nem piores em relação ao que trilhamos hoje, apenas caminhos diferentes, mas todos eles, em direção a um lugar melhor do que estamos. Alguns chamam isso de esperança, outros de fé...

Pergunto-me com frequência em minhas alucinações existenciais porque a vida às vezes parece injusta conosco? Porque ela nos dá toda sua essência maior e nos tira, nos põe a prova, e nos coloca em situações que talvez não fossem necessárias pelas atitudes que temos em relação ao próximo e a nós mesmos? Porque, sem compreender as leis universais, simplesmente pessoas que convivemos e que compartilham boas energias e atitudes fraternais acabam mudando o curso de suas jornadas por uma decisão alheia, irresponsável e que provoca consequências irreversíveis na memória daqueles que foram prejudicados com essa atitude? 

Todos sabem do que escrevo, e se não sabem bastam ler as notícias locais do nosso dia a dia. Os acidentes de trânsitos cada vez mais cruéis, que ceifam a vida de jovens que mal começaram a sua jornada neste mundo, ou que prejudicam para sempre a vida de outros que sobrevivem mas que agora precisam vencer uma nova batalha para restabelecer suas vidas e voltar a conviver entre nós, superando possíveis sequelas físicas e emocionais... As mazelas expostas da moral comum, onde o que prevalece é o poder econômico e seu abuso, mais evidenciado nesse período eleitoral, onde a falsidade, a barganha e o jogo sujo predominam em nosso cotidiano, e as sequelas de tudo citado e jogado num liquidificador, resulta no que temos hoje para nos conformar: Uma cidade linda, promissora, mas que está doente, com tumores espalhados por todos lados. Não preciso me aprofundar quanto a estas questões e suas consequências para o convívio comum. Quem enxerga, escuta e fala verá que não estou errado. 

Não estou aqui para criticar se um grupo partidário A ou B ou um político em específico está cumprido com suas atribuições, pois a frustração é tamanha que apenas preciso reverberar minhas insatisfações como cidadão, como um futuro pai que sonha em levar sua filha para brincar numa praça pública iluminada, arborizada, com segurança, calçadas... Que sonha em destinar uma porcentagem do seu salário não para a igreja, os impostos abusivos, o flanelinha, consertos no carro porque a suspensão quebrou devido a quantidade de buracos que nossas avenidas têm hoje... Ao invés disso, ir a um supermercado, e utilizar este dinheiro para comprar uma cesta básica e fazer uma doação para alguma família mais necessitada que não teve oportunidade igual a minha, ou então juntar alguns amigos e ter uma atitude nobre em ir doar sangue, ou mesmo doar abraços no meio da multidão, não apenas quando alguém próximo necessita de sua ajuda, mas também para outros desconhecidos que precisam igualmente de atitudes assim... E há ainda mais o que gritar pro mundo, mas que por hora deixamos para um próximo momento...

Todos os dias, nos seus pequenos detalhes, o mundo se revela pra mim cada vez mais nu e do avesso, onde os pequenos fragmentos dessa aquarela em muitas dimensões têm infelizmente me frustrado, ao ponto de querer por certos momentos jogar a toalha e deixar tudo como está, porém, uma chama de luz e esperança continua viva no meu peito, e eu ainda acredito que podemos mudar o mundo ao nosso redor... Se nossa cidade está ruindo e cheio de mazelas? Tudo bem, mas ainda assim é o nosso lar e precisamos cuidar, então tomemos atitude e vamos mudar o que está errado... Se novos políticos que chegam a nossa câmara de vereadores irão continuar com os velhos vícios? Tudo bem, o povo ainda tem o poder de mudar isso, com a melhor arma, o voto e a consciência e porque não o protesto também? Se os acidentes de trânsitos e as mortes não acabarão em nossa cidade? Tudo bem, podemos começar a fazer diferente a partir de agora, educando para a vida, para o amor ao próximo... Comecemos com nossos filhos, nossa família, e esta corrente se expandirá ao ponto de quem sabe um dia essas utópicas alucinações compartilhadas aqui se tornem realidade, e mesmo que isso jamais aconteça, eu ainda tenho esperança, fé em dias melhores, pois se não for assim, qual a razão de estarmos nesse mundo, se não para nos tornarmos seres melhores uns com os outros e com nós mesmos?

*Victor Matheus

VELANDO O PRÓPRIO UMBIGO

Os tempos de agora são diferentes. O centro do universo da vida das pessoas gira em torno de assuntos realmente importantes, relevantes que podem definir o futuro social e do bem estar comum nos próximos anos, mas infelizmente levados pouco a sério pela maioria dos atores dessa trágica comédia da vida real. O egoísmo e a ganância anda controlando a mente de muitos. Nunca enxerguei tanta falsidade nos olhos das pessoas, que se vestem em pele de cordeiro e acreditam fervorosamente que apenas palavras bonitas, um tapinha nas costas e um sorriso amarelo vão me convencer de algo. Sim! Eu odeio política! Me dá asco! 

Que fique claro: Odeio política partidária! Essa balela que nos acompanha todos os biênios, com promessas ilusórias, falsidade compulsória e descarada, essa gente que mal sabe ler uma frase na TV mas acredita fielmente que tem capacidade de resolver nossos problemas... Até posso queimar minha língua, mas duvido que isso aconteça! Na real? Essa gente quer mesmo é a folga de quatro anos mamando nas tetas do poder público, usando, abusando e queimando nosso suado dinheiro comum resgatado em impostos para seus interesses próprios. Não posso generalizar, mas nunca na minha vida boto a mão no fogo por nenhum político, nenhuma farinha podre desse saco! 

Não existe gente boa na política do Brasil, os fatos, a história comprovam, e não me venha com essa história que esse ou aquele é diferente dos outros. Quer saber quem são os homens? Dê poder a eles... E pior, aqueles que buscam a transparência e o caminho reto dentro da política acabam corrompidos pelo próprio sistema ou excluído das panelas sangue sugas que escoam nossas reservas financeiras públicas para o próprio bolso. É fato. Estou errado? Me prove o contrário... Estou aberto para o debate, e quando vem algum candidato bater no meu ombro e pedindo meu voto pela “nossa amizade”, porque “pode fazer muito pela cultura” ou mesmo “se precisar dá um jeito de ajudar” não me convence mesmo! Eu dou atenção, indago, pergunto sobre as propostas, os eixos temáticos, os planos de trabalho e aí o desastre se instala: Começam a gaguejar, não respondem nada com nada de concreto e o pior, fogem com o rabo entre as pernas. Uma vergonha! 

Enquanto isso nós, cidadãos comuns sofremos. Nossa cidade está cheia de ruas esburacas, postos de saúde com falta de remédio para os pacientes e até médicos e enfermeiros para atender a população, demissões em massa, atraso de salários, um caos! Mercados públicos que mais parecem um depósito de lixo orgânico. Praças públicas sem cuidados, falta de iluminação, segurança e calçadas conservadas para as práticas esportivas... E isso só pra comentar os problemas mais gritantes... Nossa cidade realmente está enferma e precisa urgentemente sair desse estado de coma. Precisa respirar de novo... O efeito borboleta da corrupção atinge seu ápice e quem paga e muito caro somos todos nós que vivemos aqui nesse oásis (mal tratado) acima da linha do equador, mas infelizmente a maioria não dá valor a isso. 

Sonho um dia que essas promessas de campanha não fiquem só na TV, que realmente a mudança real aconteça, que as pessoas que representem o povo se preocupem mais em executar as ações e propostas que os levaram a ocupar os cargos públicos e que acima de tudo, tomem vergonha na cara e respeitem aqueles que acreditam na sua palavra.. Essa utopia ainda ecoará por muito tempo, mas precisamos plantar as sementes, mudar o mundo da gente e fazer o que estiver ao nosso alcance para amenizar as mazelas da nossa querida cidade que não aguenta mais ficar em coma. Ainda há muita jornada pela frente, poucas linhas para comentar sobre o assunto mas um sentimento imenso de mudança sendo compartilhado nestas poucas linhas. 

Precisamos acreditar em dias melhores. Depende de nós dar o primeiro passo, dando um basta a esse lixo sangue suga que corrompe os sonhos, ideias e a vontade comum de fazer daqui um lugar melhor. Faça sua parte, e pense no comum. Quem vela o próprio umbigo acaba tropeçando, cedo ou tarde... Não queira fazer parte dessa tragédia também. 

*Victor Matheus

PEQUENOS DETALHES

Andei aos cochichos, conflitos e confidencias secretas com minha existência nos últimos dias. A enfermidade inesperada que nocauteou minha saúde na semana passada me colocou em “modo de espera” por longos quatro dias, numa corrida de revezamento entre minha cama e os “aposentos reais” de uma pessoa fragilizada por uma infecção alimentar. Se não vi a luz divina com esta experiência, pelo menos tive longas horas solitárias para refletir sobre minha jornada nessa vida.

Percebi nesse exílio forçado o quanto a vida é frágil em sua matéria, e como é infinita em sua abstração. Ao passo que meu corpo se diluía em líquido descendo ralo a baixo, intercalado com dores abdominais fortes, pingos excessivos de suor e noites sem dormir, tive tempo mais que suficiente para rever meus conceitos, olhar para o passado, traçar metas, e reavaliar meu presente. Olhei o mundo ao redor, e reencontrei, mais uma vez, a beleza da vida nos pequenos detalhes.

Meu corpo fragilizado só implorava pela ausência de dor e mal estar. Meus olhos buscaram incessantemente algo que desviasse o foco da minha mente durante aquela transição de homem-rei-no-trono e cidadão-comum-saudável. Tive tempo mais que suficiente para relembrar outra vez o como é bom sentir-se amado e querido, mas também constatei uma verdade: Ao passar do tempo e de nossa vida, poucos são os verdadeiros amigos que permanecem, e muitos são aqueles que deixam de lado qualquer tipo de relação fraternal conosco por motivos alheios a nossa vontade.

Após minha recuperação dessa penitência física em forma de doença, um sentimento forte e de necessidade bateu em meu peito. Uma vontade quase infantil de rever os antigos amigos, aqueles que temos um carinho imenso mas que por circunstâncias alheias a nossa vontade, tomaram outros rumos na vida. Refiz na memória um pequeno catálogo dos grandes momentos da minha vida e desses, quais ocorreram com a presença de amigos importantes, e percebi o quanto sou privilegiado por ter na vida, experimentado histórias incríveis com amizades tão distintas, perfis tão opostos, mas todos com algo em comum: pessoas de bom coração.

Resolvi que não deixarei mais a corrida insana da vida, os compromissos, o trabalho, as obrigações e deveres sufocarem mais outros espaços dos meus dias, aqueles que dedico aos meus pais e irmão, a minha esposa e nosso bebê que está crescendo em seu ventre e muito menos aos amigos, mesmo os distantes. Comecei desde já um pequeno exercício diário, em buscar na memória aqueles que fazem parte da minha história, e resgatá-los para o meu cotidiano.

Mensagens no celular, facebook, twitter, telegramas, cartas, podem não ser o suficiente, mas já são passos importantes para essa retomada de pequenos detalhes que passam despercebidos de nosso cotidiano. É verdade que são muitas as amizades que cultivei ao longo da minha vida neste lugar, e mesmo sendo algo não tão fácil de fazer, eu procuro agora estar presente na vida de cada um que cruzou o meu caminho e mudou minha forma de ver o mundo. Como um passo de cada vez, resolvi resgatar pedaços da minha história que se espalharam por aí, e a vida já têm me retribuído. Noite passada, sem muito esforço, encontrei alguns amigos do tempo de escola num lugar pouco provável. O encontro foi breve, mas a troca de energia positiva, aquele abraço sincero, e um sentimento de saudade e conforto por reencontrá-los e vê-los tão bem seguindo suas vidas me confortou o coração. Realmente devemos olhar mais o mundo ao nosso redor, enquanto ainda há tempo. Talvez aquele amigo precise de sua mão estendida, mas você anda ocupado demais para perceber isso.

* Victor Matheus