AS CORES DO AMOR


Um sorriso largo, olhos brilhando, coração sereno, linha do horizonte, sol nascendo, um beijo quente e demorado, amizade, o verdadeiro amor... Quem não deseja isso para toda vida? Já “rabisquei muito sol que a chuva apagou”, pois aprendi que para tudo na vida há um recomeço, todas as manhãs. Aprendi com a jornada que devemos sempre voltar nossa face em direção ao sol, a sua luz, para que então as sombras fiquem para atrás. Não devemos temê-lo, pois o sol que derrete a cera, seca a argila. É o amor, que molda um coração frio num jardim florido, livre e doce para guardar o beija flor. É como a amizade, que duplica alegrias e divide as tristezas... é um amor que nunca morre, é o amor sem asas, mesmo estando livre e ser capaz de voar para onde quiser.

Sol, amor, amizade... Três pequenas palavras intensas que podem traduzir um universo de possibilidades, sentimentos e desejos. Três palavras que unidas podem condensar o sentido de nossa vida. Todas as manhãs aquecemos nosso coração, cultivamos as amizades, e compartilhamos amor... Esse mesmo amor, que transcende a carne e arrebata nossa alma, transformando amantes em cúmplices, amigos, que riem das bobagens da vida num por de sol... Que adormecem no calor de abraços, despertam com os raios de luz da manhã. A vida tem mais sabor quanto unimos os três, e mais ainda, quando buscamos os três.

Nessa ciranda a gente pinta o arco íris do nosso caminho, porque nada melhor na vida do que se alimentar dessa tríade. Ver um lindo amanhecer de novo dia, com amigos compartilhando afeto sem motivos especiais, poder olhar nos olhos e dizer “eu te amo” de graça, apenas pelo prazer de amar em todas as suas formas... O amor tem disso, de várias cores, sem apego, sem malícia, mas só o verdadeiro. Quem na vida pode se dar ao gozo de não precisar de palavras para entender o que outros olhos lhe dizem? Quem na vida pode se dar o privilégio de sentir o espírito aquecer sem precisar mexer os músculos? Quem na vida pode se dar o privilégio de ter amigos que dão a vida por um sorriso seu?

O melhor da vida está nos detalhes, nas pequenas formas do corpo contar para o mundo o que se passa dentro de nós, nos pensamentos colocados no papel quando falta a vontade da boca falar, de histórias que compartilhamos com os amigos, os momentos mais importantes de nossa jornada guardados num retrato. Devemos celebrar com champanhe, beijo na boca, sorrisos e pulos travessos nossas conquistas, abraçar os amigos, gritar para o céu que amamos nossa vida. Tomar banho de mangueira com o filhote em dia quente de verão. Quando unimos sol, amizade e amor, a gente pinta a aquarela mais linda do universo. Somos os artistas perfeitos criados pela natureza, cada um do seu jeito. Temos o lápis, a tela, e a inspiração. Quando se tem amor no que fazemos, nosso espírito brilha forte como o sol e reconhecemos as verdadeiras amizades. Quando se tem amor no que fazemos, não precisamos inventar, pois tudo acontece exatamente como tem que ser.

* Victor Matheus

VIVER É PRECISO


Viver é preciso. Essa afirmação está em nosso instinto desde o momento de nossa concepção. Somos programados para sobreviver a qualquer ambiente hostil, mas nem sempre somos capazes de suportar as oscilações emocionais que nos acometem em certos tempos durante nossa caminhada nesse mundo. Porque sofremos tanto por algo ou alguém? Realmente é preciso tudo isso para só então encontrarmos a paz e a felicidade? Nem sempre para o arco íris nascer é preciso as tormentas de uma chuva.

Muitos, só compreendem uma borda do significado da palavra precisão, que na maioria das vezes, entendem somente como sinônimo de “necessidade”, “urgência”... Quando esquecem que existem outras bordas dessa mesma piscina preenchida de emoções. Não vejo a palavra precisão neste sentido literal e concreto. Prefiro tê-la em minha rotina como algo mais focado. Esta borda da palavra me atrai muito mais, o que possibilita ver o mundo de uma forma diferente, positiva e que realmente me completa em todas as direções.

Enquanto para uns “é preciso viver”, muitas vezes levando em sua caminhada o peso da angústia, de incertezas, insegurança e medo, para outros, “viver é preciso”. Mas qual a diferença nisso? Os dois mantras não traduzem o mesmo desejo? A diferença está no desprendimento das emoções passageiras, das expectativas, e no tempo que cada ferida demora para ser curado. Quando estamos machucados, precisamos da urgência em curar a dor, em esquecer o que não nos faz bem, em virar a página, em dar o próximo passo, não precisar mais abraçar o travesseiro... Precisamos viver; Mas quando estamos em equilíbrio, viver é preciso, porque passamos a compreender e amar a vida sem qualquer apego material e passageiro... Nosso desejo está em apenas consumir a vida dia após dia, sem expectativas, mas saboreando cada momento desde que nossas almas se acordam para o mundo e retornam aos sonhos.

A vida é bela demais para deixar a linha do tempo seguir em frente costurada de sentimentos que não devem fazer parte dela... Não importa se teu espírito encontra-se amargo... Um hora ele irá sorrir de novo. Quem disse que não podemos chorar? Para tudo na vida, temos que praticar até aprender. Essa relação com o mundo é que nos faz evoluir, cada passo de uma vez. O exercício do desprendimento, e o exercício da busca felicidade precisam ser praticados todos os dias. É como diz Mark Twain: “A gente não se liberta de um hábito atirando-o pela janela: é preciso fazê-lo descer a escada, degrau por degrau.” Um passo de cada vez, tempo ao tempo, que os livros e acomodam na estante, porque é preciso viver, viver é preciso, sempre.

* Victor Matheus

CELEBRE A VIDA

A gente arruma todos os dias o cabelo, porque não o coração?”. Muitas pessoas tem a errada idéia e o costume de achar que devemos comemorar nossas conquistas e sonhos somente em ocasiões especiais, como aniversários, feriados, festas de fim de ano, a nota final no semestre da faculdade e a taça de campeão do time do coração.

Esquecem muitas vezes que a a vida acontece agora. Alguns se prendem eternamente ao passado, muitas vezes a lembranças nem sempre boas e confortantes. Pior ainda, cultivam sentimentos que já deveriam ter sido deletados há tempos pela vassoura do esquecimento por não mais somar em suas vidas. Outras pessoas no entanto, geralmente as mais expansivas, vivem no mundo das expectativas, o que comumente conjugamos de futuro, mas esquecem alguns princípios básicos da nossa jornada e as variáveis que nos move todos os dias, acabando na maioria das vezes se frustando. Isso é bem claro: Quando se cria expectativas, projetamos nossa felicidade em algo que pode ou não dar certo, e quando algum tropeço acontece, nos machucamos. Tudo bem que todas as pessoas, exceto as crianças, que caem, machucam os joelhos, dão risada da travessura e logo estão sorrindo de novo, passam muito tempo remoendo seus revés, quando deveriam simplesmente balançar os ombros e dar o próximo passo. A ordem é lógica e prática: Sem expectativas, sem dor.

Então onde encontrar o nirvana entre o passado e o futuro? Já dizia o provérbio chinês: “O passado é história, o futuro incerteza, e o agora uma dádiva, por isso chamamos presente”. Por isso devemos celebrar a vida todos os dias, no agora, porque ela é nosso maior dádiva, e isso não sou eu que escrevo, está na história do homem. Somos a jóia mais rara do universo, cada um, um corpo, um espírito e mente perfeito. Único e insubstituível. Não há outro “seu” caminhando pelo mundo. Só tiramos os gêmeos dessa conta.

E você? Já refletiu em que parte da sua jornada se encontra? Olhando para atrás, perdendo tempo com o que não voltará ou preencherá os espaços do teu coração? Pensando no amanhã, que pode lhe fazer perder o foco e não perceber o que acontece nesse exato instante que a vida passa e você apenas acompanha a banda passar e não participa da festa? Ou simplesmente vive o agora, olhando as fotos que te trazem boas lembranças, fazendo planos para o amanhã mas compreendendo que só temos o agora para viver? A vida acontece agora, por isso devemos celebrá-la todos os dias, não apenas em ocasiões especiais. O tempo é uma linha reta que só caminha para frente. A velocidade somos nós que determinamos. Não se permita parar na estrada. Sem dúvidas, sem medo. O melhor do mundo está diante dos seus olhos, a tal janela da alma, mas isso...bom, isso fica para outra história.


* Victor Matheus

PONTO DE EQUILÍBRIO

No dicionário da língua portuguesa, a palavra “equilíbrio” é um substantivo masculino, que tem como significado “estado de repouso de um corpo solicitado por várias forças que se anulam”; porém, equilíbrio tem um significado que vai além das linhas dos livros didáticos. Na prática, quando aplicamos esse conceito em nosso cotidiano, descobrimos um mundo novo, no qual, assim como na descrição citada acima, várias forças se anulam, ou do meu ponto de vista, se complementam. Dominar essa difícil arte em nosso dia a dia requer muita paciência, tempo e sensibilidade.

Quantas vezes durante o mesmo dia perdemos o equilíbrio? O físico, o emocional, o espiritual? E vou além, quantos vezes durante a vida perdemos completamente o senso do que nos completa em vários aspectos de nossa jornada e não percebemos até a desordem e o caos tomar conta de nós? Até que ponto essas experiências são boas e ruins em nosso caminho? Como fazer para recuperá-lo?

Quando perdemos o foco por algum tropeço, um dia nublado, uma dor de dente, um amor não correspondido, mergulhamos num abismo de experiências que acreditamos ser o melhor remédio para curar as tais feridas, sem perceber que ao invés da cura, a gente expõe mais as chagas, e nos revelamos do avesso inconscientemente para o mundo. Não falo de fé e crenças no divino, pois cada um tem sua convicção e não estou aqui para convencer ninguém. Sua vida, seu caminho é você quem faz, e ninguém tem direito de controlar seus passos, apenas quando assim você desejar.

Muitas pessoas procuram uma fuga quando a desordem assume o controle. Caem na esbórnia, em aventuras arriscadas, noites de insônia, isolamento, solidão. Não que isso seja de um todo ruim, mas ativar o “foda-se” em modo constante pode provocar muitos efeitos colaterais. Aí depois dessa volatilidade emocional se armam de muros intransponíveis, acreditando que assim se fortalecem. Focam suas energias em vivências passageiras e superficiais quando poderiam na verdade estar compartilhando as fraquezas e belezas de sua jornada de forma sincera, despidas de qualquer censura. Aí nos perguntamos: Mas nos expor não nos deixa vulneráveis? Há as pessoas e momentos certos para isso.

Nessa história não há certo e errado, pois cada um com seu cada um. Acredito que em qualquer ponto de nossa caminhada, quando sentirmos que algo está errado, devemos olhar do outro lado do espelho, e perceber que as vezes nossas fraquezas demonstram nossas melhores qualidades, que pessoas que não julgamos serem essenciais em nossa vida podem ser o nosso anjo da guarda. Acredito que para todo o tropeço há uma mão estendida para te ajudar a se erguer. Quando encontramos nosso ponto de equilíbrio, nossa homeostase, o que para alguns significa a tampa da panela, para outros a realização pessoal, seja como for, passamos a enxergar o mundo de uma maneira mais ampla, conectada e harmoniosa. Equilíbrio é mais que uma palavra positiva, é um estado de espírito que nos eleva ao divino.

* Victor Matheus

CHEGA DE SAUDADE

Tem dias que acordo com gosto amargo na boca. Dias assim eu prefiro me encolher no casulo, observar o vento beijar as grandes árvores da cidade, abraçar o cachorro de estimação e olhar bem no fundo dos olhos dele, acreditando que ele vai me entender, e eu sei que vai entender meus olhos... Ouvir as pessoas estranhas resmungando na fila do banco e apenas esperar o tempo passar. Dias assim na minha existência, são como retiros físicos e espirituais para curar feridas, apesar de não haver nenhuma delas no meu peito.

Paro a pensar o que leva as pessoas a se retraírem? Seria por medo? Por angústia? Problemas pessoais? Financeiros? Ou apenas saudade? No meu caso, eu sei que é saudade. Saudade daquelas de apertar o coração, de pegar a foto e se perder no tempo gravando cada detalhe na memória para nunca mais esquecer, como um mapa do tesouro, mas diferente, real, humano, cheio de curvas, que despertam os desejos mais intensos. Dá vontade de pegar o telefone, escrever mensagem... E depois apagar tudo e repetir. De pensar duas, três, várias vezes em ligar só para ouvir a voz... Mas seria estranho, bem estranho. De adormecer e sonhar um sonho bom, tão intenso e real que ao despertar, achamos que tudo ficou do avesso... E acaba ficando mesmo. De onde vem toda essa necessidade de sentir apego por outro alguém tão longe e necessário em nossa vida?

Então costuro os retalhos de lembrança, busco lá no fundo, na última porta do coração, trancada com todas as chaves de segredos, os motivos desse aperto inesperado no peito... Aí fecho os olhos, Abraço o silêncio e a verdade se revela dentro de mim... O coração dispara, como que tentando contar aos meus ouvidos porque me sinto assim, porque sonho assim, porque estou assim... Mas eu nego... Rejeito... Não quero! Porque se entregar a incerteza, de se jogar no abismo, sem saber se vale a pena? Mesmo o sonho real, o gosto do beijo, o cheiro no ar, o som do sorriso ainda ecoando na memória para me dar certeza que vale a pena beber desse sentimento?

E quando toda essa pequena tempestade de emoções começa a se acalmar dentro de mim, do outro lado da porta ouço uma canção tocando no rádio em volume baixo, como que caprichadamente colocada naquele volume só para eu ouvir, e os versos diziam “Vai minha tristeza / e diz à ela / Que sem ela não pode ser / Diz-lhe numa prece que ela regresse /
Porque eu não posso mais sofrer / Chega de saudade, a realidade é que sem ela / Não há paz, não há beleza, é só tristeza / E a melancolia que não sai mim, não sai de mim, não sai / Mas se ela voltar, se ela voltar / Que coisa linda, que coisa louca / Pois há menos peixinhos a nadar no mar / Do que os beijinhos que eu darei na sua boca”, e ao terminar de ouvir os versos, como um anjo que toca um cântico celestial para abençoar nosso espírito e nos proteger de qualquer mal, eu tive a prova divina que nem sempre podemos ser donos do nosso destino e controlar os sentimentos. Percebi que gastei tempo de mais desperdiçando paixões... Chega de saudade! Agora só me interessa viver esse amor, quando a saudade acabar e ela voltar.

* Victor Matheus