PRIMAVERA TROPICAL

“Quem sabe faz agora, não espera amanhecer...”

Sou filho de uma geração que foi as ruas nos tempos de repressão, inflação exorbitante, abuso de poder, censura, tortura, quando a liberdade de ir e vir, de opinar, de compartilhar ideias, sonhos e vontades com os demais não tinha vez... Sou cria da geração que mostrou a bunda para o falso moralismo e o militarismo autoritário, foi para as ruas, uniu força com seus iguais e como uma massa compacta e rolo compressor enterrou por definitivo longas duas décadas de ditadura militar. Geração esta que trouxe de volta o poder ao povo e para o povo. O ano era 1985, o mesmo ano em que cheguei a este planeta... Infelizmente menos de uma década depois, a mesma geração que clamava por liberdade tomou de conta do poder político de nosso país e quase o levou a total ruína... Jovens foram as ruas, pintaram as caras, até nome de canção receberam em sua homenagem e protestaram incansavelmente, lutaram pelos seus direitos, exclamaram palavras de ordem, invadiram o congresso nacional, enfiaram o dedo na cara do presidente e o mandaram catar coquinho... O final dessa história todos já sabem.

Passados quase vinte anos, duas gerações, guerras, atentados terroristas, tetra e penta campeonato mundial da seleção, fome, miséria, bolsa família, bolsa educação, cueca cheio de dinheiro encontrada por aí, roubo em licitações e contratos, desvio de verbas, corrupção, mensalão, mensalinho, “lulinha lá”, crise energética, plano real, dívida externa, devastação da Amazônia, roubo de material genético de indios yanomamis, hidrelétrica de Belo Monte, lei da “cura gay”, Feliciano, Rena Calheiros, etcétera e tal, o povo brasileiro enfim acordou de um longo e inquietante período de passividade quanto aos males e literal estupro dos nosso cofres públicos por parte da grande maioria de nossos representantes políticos... Chegou enfim a hora do basta pra tudo que por anos habitou apenas o inconsciente da sociedade, mas que nunca tinha voz e vez, e de fato, poder de mudar... Agora os tempos mudaram, e como diz a máxima popular, “o gigante acordou”, e ao que tudo indica para uma longa vigília em prol do bem comum de toda a nação.

O que mais me agrada com relação as manifestações que temos acompanhado diariamente nos noticiários é que esta revolução iminente que está a ponto de atingir seu ápice nasceu da vontade uma geração que “nunca antes na história do Brasil” havia passado por um período de recessão, uma geração que não tem líderes eleitos, é apartidária e pauta diversos assuntos essenciais e relevantes para o nosso país... A mesma geração da qual faço parte e que não sabia até então o que nossos pais e avós, livros de história, canções e testemunhas anônimas da história real enfrentaram até conquistar as mudanças e quebras de paradigmas que sempre combateram, seja por ideias, seja por revolta, seja por incomodo de não compactuar com o sistema político vigente... O povo está cuspindo na cara de quem merece e dizendo aos nossos políticos como eles devem fazer o seu dever de casa, e mais ainda, dizendo que a partir de agora, o parque de diversão e torneira da roubalheira do nosso dinheiro público está com os dias contatos, e vai além, não tratando apenas da corrupção que assola há décadas, ou melhor, séculos o nosso país, mas também cobrando mais do que sempre o povo teve direito, mas apaticamente preferiu “ignorar” por conveniência, manipulação, desconhecimento ou medo mesmo.

Portanto, não há muito mais a divagar sobre o momento de transformação que nosso país vive, mas cabe aqui um pequeno manifesto: “Senhor futuro do Brasil, peço encarecidamente que nos próximos anos o nosso país saia desse estado de letargia, comodismo e manipulação política, e se transforme de fato numa nação que se orgulhe não apenas pelas aparências e mentiras televisivas que ouvimos diariamente, mas que seja de fato um país de todos, e para todos, e que minha filha Valentina possa crescer numa nação próspera, justa, digna, com toda a infra estrutura que reivindicamos há décadas, que não tenha vergonha do passado medíocre de 500 anos de roubo e inverdades que fomos um dia obrigados a engolir e sermos condicionados, mas que faça disso uma inspiração para a mudança real que almejamos, e que caminhe para frente mudando o que está de errado, pelas mãos do seu povo, os donos de fato e de direito de todas as nossas riquezas e os catalisadores da mudança real que queremos para todos... E que sejamos fortes para percorrer este período latente de mudanças que estão por vir, e tal qual foi quando eu era apenas um garoto de 7 anos e vi o mesmo povo tirar do poder um presidente corrupto, agora, quase duas décadas depois, já homem feito, possa também fazer parte dessa mudança e quebra de paradigmas, e que possamos celebrar juntos um novo recomeço na história do gigante da América do Sul. Querer é poder! Para mudar o mundo, primeiro devemos mudar a nós mesmos.” Enfim chegou a Primavera Tropical, cheia de flores, mas não menos importante que de outrora. Vamos pra rua. Vamos em busca do melhor para todos.

FELIZ DE HAVAIANAS

Não existe um caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho.” - Mahatma Gandhi

Certamente todos nós, em algum ponto de nossas vidas, já nos perguntamos: Somos felizes de verdade? Temos tudo que precisamos para gritar pro mundo que adoramos nossa vida? Ou simplesmente ignoramos o fato real que permanece constante na vida de qualquer ser humano que chega a esse planeta, aquela inquietação interna, a busca quase obsessiva pela tal felicidade, a paz de espírito, o prazer pleno, quase divino e imaculado, mas que tal qual uma longa escalada ao pico de uma imensa montanha, por vezes é difícil, tortuoso e até dolorido... Você já viu esse filme algum dia?

Conheço muitas pessoas que tem, do ponto de vista social, vidas maravilhosas, com posses, estrutura familiar, bons ofícios, capital financeiro, casa própria, carro do ano, celular bacana, que viaja quase que mensalmente para lugares maravilhosos ao redor do mundo, mas ainda assim “reclamam” de suas vidas, e deixam transparecer que apesar de tudo que tem, em termos materiais e de status, não são felizes de verdade, o que me faz pensar que inversamente proporcional é a felicidade plena quando o indivíduo menos tem com o que se preocupar, e isso inclui menos apego ao material, a opinião alheia, a necessidade de encontrar em algo inorgânico, o prazer verdadeiro de estar por aí, caminhando nesse mundo.

Em contra partida, também conheço muitas pessoas que, apesar das dificuldades da vida, a falta de dinheiro no bolso, a contra atrasada da parcela do carro, etcétera e tal, não se deixam abalar, e emanam mais luz e felicidade do que muitos bem sucedidos financeiro, social, e profissionalmente, simplesmente porque essas pessoas acabam descobrindo que a felicidade não está ligada a coisas materiais... Se o coração está aquecido de amor e de boas energias, todo o resto acaba se tornando secundário, e o mundo, a vida, Deus, ou o destino, como prefira definir, acaba conspirando ao seu favor, abrindo caminhos antes difíceis, e os problemas de outrora, quando menos se percebe, já foram superados.

Por um bom tempo, tive um hábito pitoresco que devo compartilhar: Adorava andar com um par de sandalhas “sustentáveis”. Deixe-me explicar melhor: Usava um “pé” de uma marca, e “outro pé” de outra marca. Do ponto de vista estético não era nada bonito, mas para mim pouco importava. Sempre me agradou esquisitices, e o “par híbrido” de sandalhas atendeu perfeitamente as minhas necessidades por um longo tempo. Eu poderia a qualquer momento comprar um par de sandálias novas, pois recurso financeiro nunca me faltou, mas acabei me apegando aquele par de sandálias de tal maneira que foi difícil praticar o desapego e subistui-los por um par novo. Assim o tempo passou, até que um dia percebi que até o par de sandálias sustentáveis estava desgastado demais para continuar sendo usado. Resolvi então aposentá-los e adquirir novas sandálias.

Percebi algo diferente dentro de mim quando realizei a compra das novas sandálias... Senti um imenso prazer no meu coração ao concretizar aquele desejo banal e fútil, quase sempre ignorado por muitas pessoas, afinal quem sente prazer em comprar sandalias? A lógica seria nos emocionarmos ao comprar uma casa nova, um carro do ano, ou aquele celular de última geração que só vende nos Estados Unidos... Naquele instante, percebi que não preciso de muito para ser feliz nessa vida. Encontrei prazer e satisfação tanto material como espiritual num pequeno gesto... Compreendi que nessa vida, feliz são aqueles que não precisam de posses para alimentar seus sentimentos, mas sim aqueles, que de desprendem de tudo, e ainda assim são felizes, apenas pela razão de ser. Talvez, somente com essa experiência, pude dar razão as palavras do grande sábio Gandhi: “Não existe um caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho.” Por fim a lição que compartilho é: Quando praticamos o desapego, ou encontramos o prazer nos pequenos detalhes da vida, encontramos verdadeiramente o sentido para sorrir, ser feliz, e compartilhar amor... Eu sou feliz, com muito ou pouco no bolso, não importa, eu continuo feliz, de havaianas, sorrindo pra vida!

* Victor Matheus