JOGO DE PODER

A volatilidade que o homem tem em ser capaz de mudar a direção dos seus passos é o que trouxe a humanidade ao ponto em que se encontra hoje. Por meio da curiosidade, da auto crítica e do anseio em buscar novos horizontes, nossa espécie mistificou as estrelas e satélites, transformou homens em santos, construiu impérios, pilhou, saqueou, escravizou seus semelhantes e manipulou governos e massas a favor do próprio ego e do poder.

É bem verdade que não há somente mazelas para reconhecermos em relação ao nosso semelhante, pois há muita beleza criada pelas mãos dos filhos dos deuses e que podemos admirar a todo momento ao nosso redor e no horizonte. Mas a reflexão que indago é: Até que ponto somos capazes de sobrepor a ganância e o ego sob a honra e o bem comum?

Vejo diariamente fatos que me dão asco quanto aos jogos de poder e barganha que presencio em nossa sociedade, em todos os aspectos. Quem acompanha meus devaneios nestas linhas já sabe há um bom tempo meu posicionamento quanto a política partidária: Apenas anulei do meu cotidiano. Respeito como cidadão a didática adotada pelas lideranças políticas escolhida pelo nosso povo de forma “democrática”, concordo em partes de como desenvolvem seus planos de governos, e me abstenho desse debate simplesmente por desacreditar em mudanças reais partindo do topo desta pirâmide.

Em contrapartida, vejo na base desse sistema muitas oportunidades para realizar as mudanças utópicas que construí ao longo da minha jornada e que compartilho há um bom tempo, em especial relacionado a cultura, a força motriz e fagulha histórica que sempre estimulou as mudanças sociais e políticas do mundo como um todo, mas como um vírus mortal e imediato, esta parte “sagrada” da engrenagem da grande máquina orgânica chamada sociedade também está se corrompendo.

A cultura virou simplesmente uma moeda de troca num jogo de poder, onde apenas os barões e suas “casas reais” se beneficiam com estas articulações, utilizando um discurso falido que prega a igualdade, coletividade e solidariedade, quando na verdade, para qualquer observador mais atento, não passam de manobras articuladas na calada da noite para o benefício de uns poucos e com prejuízos imensos para muitos. Agora pergunto quem são os culpados por atravessarmos um período estagnado em nossa sociedade, especialmente relacionado a cultura de vanguarda, que vive apenas do passado e não apresenta algo realmente substancial e relevante no presente para nos orgulharmos num breve futuro? Os culpados somos todos nós que passivos, fazemos parte desse jogo de poder, sendo protagonistas e expectadores, que aceitamos calados por conveniência ou por censura a prostituição de uma parte da sociedade que tem um dos papeis fundamentais na construção de um futuro melhor para o bem comum e as futuras gerações. Ainda assim há aqueles que não se conformam com o cenário e lutam por mudanças.

Enquanto as mudanças reais não acontecem, não desistimos de gritar para o mundo nossas insatisfações, muito menos deixaremos nos corromper por um novo sistema que está contaminando uma parte essencial e norteadora das mudanças que queremos para as futuras gerações. Persistimos apontando os erros e desmascarando as artimanhas canalhas, reconhecendo os desafios e propondo ideias para as mudanças reais e positivas que almejamos. Raul Seixas disse certa vez que “sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é realidade...”. Ainda acreditamos nesta oração profética e não desistiremos de tal sonho enquanto os podres e medíocres generais não forem destituídos e eliminados desse jogo de poder que definha as possibilidades de evoluirmos como sociedade, com senso crítico e respeito ao bem comum, a nossa história, a nossa cultura e nossa relação com o próximo. Cultura não é moeda de troca. Cultura não é produto para manobras políticas e controle social. Cultura não é meio para auto promoção. Cultura não é mercadoria descartada por conveniência. Abaixo o jogo de poder, enterro aos que usam dele para afagar o próprio ego. Devemos ser duros sim, sem perder a ternura, e sem medo de lutar pelo que acreditamos.

* Victor Matheus