RECICLANDO IDÉIAS

Quando eu era um jovem movido pelos hormônios, concebia a idéia de paixão totalmente incompatível com a forma que vejo e sinto o mesmo sentimento agora. Tal qual o fogo que se dissipa rápido, meus amores, decepções, feridas, tropeços e recomeços foram intensos, voláteis, e na maioria das vezes descartáveis. Precisei saltar novamente nesse universo da paixão, do amor, para compreender claramente o passado e as cicatrizes que carrego hoje.

Com a caminhada se alongando por mais de duas décadas e meia, hoje posso contemplar com segurança e serenidade todas as fases da vida sem ansiedades, sem medos, sem receio algum de pular no abismo profundo e surpreendente que é o nosso universo interior. Venho descobrindo, ou melhor, redescobrindo emoções adormecidas pelo tempo por escolha própria, por até então acreditar que o racional deveria comandar o horizonte da minha jornada... Então como um cometa, um raio de luz emitido pelo universo com endereço e hora certa, a paixão me arrebatou novamente, e me fez ver e sentir mais uma vez o sabor, as cores, a delícia que é poder amar de novo.

As velhas idéias, os medos bobos, e toda a insegurança simplesmente se extinguiram. Outras estão se reciclando, tomando novas formas mais completas e essenciais. É preciso provar desse “veneno” para compreender o que compartilho nestas poucas linhas. É preciso ir além, saborear os dois lados da ponta da lança para compreender finalmente que não precisamos ir a guerra para alcançar nossos sonhos, basta cultivar o jardim, abrir a vela do nosso barco e seguir o tempo, que o porto chega logo até nós.

Eu sempre acreditei no poder das palavras, nas forças físicas, químicas, espirituais, cósmicas e casuais do universo agindo ao seu favor quando você decide abraçar o mundo e gritar para todos ouvirem que teu espírito está sorrindo. Para alguns, é o que chamam de Felicidade, para mim também é. Tão simples como sorrir ao ver uma criança se lambuzar com sorvete, da travessura feita escondida dos pais.

Certo homem famoso disse que “a morte é a maior dádiva da vida, pois tira o velho para dar lugar ao novo”. Eu morri exatamente há alguns dias atrás. O homem puramente racional. Deixei para a história e os livros aquele ser. Desse ponto em diante, reciclo as idéias, me refaço e reconstruo de novo, para seguir uma nova jornada. Não sou mais um único ser habitando esse universo. Enfim encontrei mãos para unir as minhas e construir um futuro. Agora me divido em outras partes. Uma aqui, dentro do meu peito, e outra guardada e protegida pelo meu bem querer... Sou privilegiado por ter esta dádiva dada pela vida de me permitir amar outra vez. Quantas pessoas tem essa honra? Quantas pessoas merecem gozar desse sentimento? É por isso que nunca me canso de compartilhar o mantra “abraça o mundo, que o mundo te abraça”. A felicidade está bem a nossa frente. Basta abrirmos o coração para ela entrar.

* Victor Matheus