Há
quem diga que a vida de pai é mais martírio do que felicidade.
Tolos estes que dizem que o homem livre ao se tornar pai passa a
carregar um fardo pelo resto de sua vida. É tanta estupidez ouvida
da boca de pessoas pobres de espírito, que até cheguei, muito
brevemente, a me preocupar com os avisos, até perceber, ou melhor,
reconhecer, que a felicidade incomoda, e muito, os contaminados pela
inveja, pelo negativismo, pelo desejo de querer ver o mal do
próximo, querer o mal do próximo.
Há
também aqueles que dizem que filhos são dádivas dadas por Deus
àqueles merecedores, que ao embarcar nesta jornada chamada Vida, são
capacitados para receber tão logo preparados, o maior presente de
todos. Prefiro pensar assim. Prefiro pensar que filhos chegam ao
nosso mundo para mudar nossos passos a um novo horizonte de
possibilidades, de caminhos por hora tortuosos mas prezerosos de ser
percorridos, e que mesmo havendo tropeços, o sabor de bater a
poeira, levantar e seguir em frente permaneça e se perpetue. Já
dizia Raul “Se é de batalhas que se vive a vida, tente outra vez”.
Filhos
são dádivas. Colocam homens no trilho, dão foco e objetivo a vidas
antes desregradas e voláteis. Filhos nos ensinam mais do que são
ensinados. Paciência, foco, trabalho, determinação, resistência
física ao sono, poupança financeira, escolhas prudentes, menos
perigo, menos dinheiro no bolso, menos tempo para outras coisas,
menos, menos, e menos... Parece pessimismo, e pode até ser, mas,
veja o outro lado da linha... Mais sorrisos, mais alegria, mais
motivos para seguir em frente, mais surpresas, mais novidades, mais
amor para compartilhar, mais da vida, mais de sí, mais para os
outros... Muito mais do que menos, e se botar na balança, até o
menos vira mais, e ainda dizem que filhos são um fardo?
O
prazer de trocar fraldas, acordar de madrugada, embalar tua prole nos
braços, adormecer junto dela embalado na rede, acordar e ainda estar
dormindo, esquecer a roupa na máquina de lavar, o prato cheio de
comida no almoço, o filme pela metade na TV, ir correndo para casa,
adiantar o trabalho, deixar o chopp gelado com os amigos para depois.
Tudo que queremos é estar perto de nossos filhos, de nos inebriar de
seu cheiro angelical, acariciar sua pele frágil e macia, perder-se
nas horas do dia embalando sua cria no colo, contemplar sua face
graciosa e serena, se derreter ao vêr um sorriso brotar da face,
acompanhado de um suspiro e dos pequeninos braços, pernas, tronco e
cabeça relaxarem e se entregarem ao sono ren. Há algo mais sublime
que compartilhar esses momentos com os filhos?
Eu
não troco minha vida passada, mesmo com seus momentos célebres que
renderiam um bom livro de comédia/drama/aventura pelo meu presente.
Não troco o passado incerto e inseguro pelo presente que me aponta
um futuro feliz ao lado do meu grande amor, e do fruto dessa relação
mágica que une minha vida a de minha esposa, e nos interliga através
de nossa filha. Eu não troco a incerteza de outrora em envelhecer
sem perspectivas concretas. Prefiro as horas infinitas que passo
decodificando cada parte do corpo de nossa cria, tentando desvendar
qual parte tem meu DNA e qual parte tem o DNA da minha amada, ou se a
tal parte é a mistura de nós dois. Não há como descrever o
sentimento de encontrar partes físicas suas reeditadas em miniatura
no corpo de sua cria, reconhecer partes de sua amada na mão, na
face, nos cabelos, na personalidade, no tipo sanguíneo... É um
carrossel contínuo de descobertas que nunca acaba.
O
prazer de ser pai está na descoberta diária de pequenos detalhes
que une sua vida, de sua amada e de sua cria, numa fonte inesgotável
de felicidade, de novidades muitas vezes surpreendentes, que nos faz
compreender e entender que ser pai é para poucos, para os
merecedores, e por tudo isso devemos ser gratos a vida. Eu olho para
o céu todos os dias, com o peito aberto, para dizer ao universo:
Obrigado por ter me feito pai.
Victor Matheus