DO ZERO AO INFINITO

Um bebê representa a decisão de Deus de que o mundo deve seguir.”

Certa vez escrevi uma canção na qual o refrão diz “Quando abro a porta nada mais importa / quando abro a porta e te vejo sorrindo”. A canção, escrita na tarde de vinte e nove de janeiro de dois mil e treze, em meio a lágrimas de alegria e ansiedade, foi inspirada na chegada do maior presente divino que recebi: Minha filha Alessa Valentina. Naquela noite eu descobriria um sentimento até então jamais palpável: O amor verdadeiro.

Este verso foi escrito há pouco mais de 8 meses atrás e hoje, ao reler, cada palavra ecoa na minha mente como um quadro surrealista de Salvador Dalí, mas incrementado de descobertas que vão além da percepção visual. Desde a chegada da Manga Rosa (apelido carinhoso que dei a minha filha) até os dias de hoje, temos vivido uma jornada intensa, iluminada e e surpreendente, medida por dias e semanas, como capítulos curtos de uma grande enciclopédia do livro da vida, do livro da vida da família que nasceu com a chegada dela, da nossa família.

Se no começo de sua jornada nesse planeta, esse pequenino e frágil ser vivo precisava de cuidados, amor, atenção, leite materno, e noites quase sempre em claro fazendo vigília pelo seu bem estar, agora, passados oito meses, a realidade é outra e mais intensa: Ainda há noites em claro, mas em menor quantidade, mas também há novas descobertas que geralmente são percebidas apenas por nós, pais e mães, que convivem diariamente com nossos filhos. Como descrever a sensação de um pai ao ver pela primeira vez sua filha se por de pé sozinha, apoiando apenas suas diminutas mãos no canto da cama, ou na gaveta aberta do armário, ou mesmo na caixa de brinquedos no meio do quarto? Como descrever a alegria de presenciar o sorriso largo e brilhante de sua filha enfeitado com oito “dentinhos de leite” que mais parecem ter sido esculpidos cuidadosamente em sua boca? Como lidar com as travessuras interpretadas por uma bebezinha curiosa em morder, tocar, puxar, apertar e jogar absolutamente tudo que está a sua frente, acima, abaixo, ou mesmo em seu corpo? E quando você começa a se acostumar com as novas descobertas de seu bebê, na semana seguinte muda tudo de novo.

No começo, éramos acordados de manhã cedo com um choro manhoso de uma bebê faminta pelo leite da mamãe... Um choro traduzido em pedido de acolhimento. Hoje raramente ouvimos este choro, mas sim o chamado pela “mamãe” (isso mesmo, “mamãe, e não “mámá”) de uma bebê que ao acordar, prontamente escala a guarda do berço, se põe de pé e começa a chamar pela mãe... Não há prazer maior nessa vida do que despertar ao chamado de seu filho, e vê-lo sorrindo no berço esperando ser tomado pelos braços é como entrar em comunhão com o amor supremo e universal...

Sentar, engatinhar, subir nos móveis, ficar de pé, morder tudo que pega com as mãos, comer papinha, brincar com objetivos movendo-os atentamente como se quisesse descobrir sua função, bater palminhas enquanto ouve um novo vídeo da galinha pintadinha, pedir colo da mamãe, do papai, do vovô e da vovó, pôr a mão na orelha e dizer “ô!”, utilizar os dedos das mãos como pinça e fuçar um objeto qualquer, interagir com desconhecidos, saber que a palavra “não” serve de limite para algo que está fazendo de errado, mas que não reprime ou magoa (mesmo que segundos depois Ela tente fazer o mesmo de novo), amar as plantas e os animais, e tratá-los com carinho, se divertir no balanço dado de presente pelo avô, enlouquecer nos passeios de carrinho pelos bosques e parques da cidade, brincar com o priminho da mesma idade e descobrir que o “anda já” é o poder supremo da liberdade para um bebê (risos), descobrir novos sabores do mundo, como degustar pela primeira vez um sorvete num domingo de verão, ter a franjinha do cabelo cortada pela primeira vez pela mamãe, surpreender os pais com um carinho, um olhar profundo nos teus olhos, uma conversa em “bebenês”, ou simplesmente sorrir ao rever o papai adentrar o quarto depois de um longo e exaustivo dia de trabalho... São tantos detalhes para descrever nesses oito meses que não haveria linhas suficientes para tal.

Ao pegarmos o número oito e “deitá-lo” o que teremos? O símbolo do “infinito”. Ao contemplar minha filha brincando, interagindo com o mundo ao seu redor, e sendo testemunha de sua maturação cognitiva, motora, sua clara e já latente luz divina e suas formas de expressar sentimentos, desde afeto, amor, até mesmo incomodo e impaciência por não querer ficar sentada no carrinho na hora da papinha me faz perceber que as possibilidades são infinitas quando se trata de filhos, e pouco importa se a vida que temos seja dura as vezes, com provações, tribulações, dias extenuantes de trabalho, estudos, desgaste físico e emocional por conta das obrigações que temos com a sociedade e com nós mesmos... Quando abro a porta da minha casa após mais um dia de trabalho, nada mais importa, porque sei que do outro lado haverá uma bebê, um pequeno ser divino, que ao me ver, compartilhará um sorriso, estenderá os braços, pedirá o meu colo, e eu a tomarei nos braços, lhe abraçarei, sentirei seu cheiro angelical e lhe direi o quanto a amo... Ela certamente, como sempre faz, retribuirá com um sorriso, e mesmo ainda sem pronunciar palavras da nossa língua, me dirá com os olhos e um afago de sua pequenina mão em minha face, que me ama também. Por isso e por tudo que há de bom na minha vida desde sua chegada é que lhe desejo feliz oito meses de vida Manga Rosa, e que do zero ao infinito eu possa estar sempre ao seu lado para te ver sorrindo, e me ensinando que amar está além de palavras e atitudes, mas tão simples e indispensável como tê-la em meus braços.